quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

200inove

A despeito da convenção que divide o tempo em ciclos, nunca se esqueça que:

"é dentro de você que o ano novo cochila e espera desde sempre."

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Então é natal...

Ou Sim, eu sou ranzinza

Ou ainda Rôu, rôu, rôu pra você também


Eu definitivamente não consigo me empolgar com o Natal. Não porque eu ache a história de Jesus apenas um mito. Eu acho. Mas isso não diminui sua importância na história do mundo ocidental tal como a conhecemos hoje. E o acho mesmo um mito bacana, com uma história bonita e uma mensagem até mesmo revolucionária. O amar ao próximo como a si mesmo se fosse tomado ao pé da letra, sem as deturpações que sofreu pelas religiões, sem os intermediários que dizem falar em nome dele, estaríamos bem melhor. Não duvido. Enfim, a idéia de Jesus é uma idéia bacana, acredite você nele ou não. Mas a forma como se comemora o nascimento desse mito é tão deturpada como o uso que sempre se fez do seu nome. A beleza da simbologia, esvaziada, perde o sentido. O que vivemos é um show de consumismo e gula, protagonizado por outro mito, que acaba roubando a cena mas que não tem nada a dizer.
Falei algo parecido, ano passado, ainda no Tudo aquilo.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Onde a felicidade?



Vovó, que era de um pessimismo angustiante mas que traz à vida uma certa poesia, citava sempre uns versos que hoje, graças ao google, descobri serem do poeta Vicente de Carvalho: “A felicidade está onde nós a pomos/ mas nunca a pomos onde nós estamos.” Já eu, de um otimismo contraditoriamente depressivo, discordo. Não pomos a felicidade em lugar nenhum, porque ela, etérea, está sempre nos escapando das mãos.
Acho mesmo a pergunta do título pura retórica, o que não faz a vida infeliz, de modo algum. É essa busca, por uma felicidade hipotética que nem sabemos bem o que é, que nos move adiante. Ela é que traz a inquietação do nosso eterno desejar. E, como toda questão insolúvel, esta também perambula pela obra dos poetas.
Eça, num dos seus brilhantes contos, disse: “... nada torna o homem recolhido, conchegado à lareira, simples e facilmente feliz – como a guerra. É a paz que, dando os vagares da imaginação, causa as impaciências do desejo.” Eu não sei a que tipo de guerra ele alude, mas é certo que não vivemos em paz, e essas guerras não declaradas definitivamente não aquietam o espírito.
Por isso talvez tenha mais razão outro português, o Pessoa, ao escrever: “Só quem puder obter a estupidez/ Ou a loucura pode ser feliz.” Taí, duas formas de alheamento do mundo. De olhos fechados não se vê toda sujeira. O contratempo: nem uma, nem outra se adquiri por vontade própria.
Mas nem tudo está perdido! Temos as tais horinhas de descuido, que é onde, segundo Guimarães Rosa, está a tal felicidade. A gente nem sempre percebe, mas impossível não sentir o gosto. Daí a gente guarda no HD, porque ouvi alhures que ser feliz é ter prazer nas recordações. E vez ou outra você prova uma das madalenas.
Mas todos os poetas e quiçá os filósofos não chegam a uma definição tão clara, orgânica, visceral como chegou vovó, mesmo sem ter sabido aplicá-la em vida: felicidade é o bom funcionamento dos órgãos vitais. O resto é lucro.